Hoje eu estava refletindo sobre o
conhecimento e pensei que ele às vezes funciona como um pé de pega-pinto.
Quem é do interior com certeza já viu ou
já ouviu falar de uma plantinha “que dá no mato”, chamada “pega-pinto”. A danadinha
é miúda e como estratégia para reproduzir, a mãe natureza fez as suas
sementinhas bem pegajosas, assim, quando elas pegam nos pintos, nas galinhas ou
nas pernas de quem descuidadamente passa roçando nelas elas grudam e seguem
seguras pelo restante do caminho.
Onde eu vi tal
relação entre o conhecimento e o pé de pega-pinto? Em uma observação inquietante
que faço de mim mesma e certamente pode acontecer com outras pessoas também.
Estou lendo alguma
coisa. Hábito que trago desde a infância aprendido com o exemplo da minha mãe
que por sua vez assistia isso no seu pai. Os livros são, na maioria das vezes,
rabiscados e anotados numa tentativa óbvia de que fiquem gravadas em minha
memória as coisas que considero mais interessantes ou importantes.
Acontece que
memorização é realmente o meu ponto fraco (no sentido de fraco mesmo, de
deficiente). Tal dificuldade foi motivo das frustrações nos primeiros
vestibulares. Desta forma, muitas vezes parece-me ser em vão as tentativas de
fixar na memória aqueles conhecimentos ou informações mais complexas que recebo
nas leituras ou até em outras fontes.
Todavia, de outra
forma, quando converso com alguém espontaneamente consigo perceber que os tais
conhecimentos grudaram em mim como as sementinhas de pega-pinto e seguem
comigo.
A questão é que
algumas situações, profissionais, ou mesmo conversas informais, exigem além da
espontaneidade, exigem fundamentação para firmar crédito no conhecimento que
expressamos. É neste ponto que me ressinto da dificuldade em memorização.
Invejo aos que
relatam de cor textos completos de outras pessoas, aos que citam autores
famosos, aos que sabem de memória teses e nomes de quem as criou. Invejo aos
que em conversa sobre um fato assistido na tv, por exemplo, conseguem ir além
do fato em sim e dão maior crédito narrativa descrevendo o local, a data e
outras informações relevantes.
Pensando nisso,
veio à minha mente agora a importância de exercitar no aluno desde muito cedo a
sua memória. Tudo bem que os pesquisadores que dão embasamento a didática
contemporânea construtivista (não vou citar os nomes porque não memorizei,
rsrsrs) se contrapõem, com razão, aos métodos de educação baseada unicamente na
memorização enfadonha da Pedagogia Tradicional. Mas daí a gente descartar
totalmente o valor dos exercícios para se ter uma boa memória, é um desastre.
Se este meu
escrito fosse um artigo científico eu iria buscar embasamento para mostrar que
na maioria das vezes em que surge uma contraposição teórica, ela é aceita de uma
forma tão radical, que chega a ser prejudicial. É com esse radicalismo que
precisamos estar atentos.
Ter conhecimentos
do tipo “pega-pinto” é realmente muito bom, mas devemos garantir aos novos
estudantes a capacidade de arquivar informações concretas para serem mencionadas
conscientemente.
Eu penso aqui em
jogos como o próprio “jogo da memória” e outras formas lúdicas de exercícios como
esta função. Tais exercícios certamente iriam aumentando o seu grau de
complexidade de acordo com a idade e com o ritmo e capacidade cada aluno.
Assim, talvez, houvesse
futuramente menos sofrimento como o meu.
PS: A fonte da imagem é também uma fonte de maiores informações sobre a plantinha aqui mencionada, o pé de pega-pinto. Vejam lá:
http://trupemaia.blogspot.com.br/2007/11/histria-do-pega-pinto.html
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